A rotina de ateliê: um processo

A liberdade de criar é transformadora, porém, causadora de alguns equívocos a partir do momento em que, hoje, não existem mais referências determinantes para o fazer artístico. Há sempre uma confusão de entendimento entre o que é Arte e o artesanato, o simples fazer artístico, a livre expressão.

Todos os seres humanos têm a possibilidade inata de criar. Mas nem todos têm a aptidão, habilidade, vocação para ser artista. Ser artista não é simplesmente ter a técnica para pintar com esmero uma tela, ou jogar tintas ao acaso e criar um abstrato.

Ser artista vai além do fazer. Ser artista é um estado de ser!

Para criar uma obra não basta somente fazer um objeto ou pintar uma tela, é preciso criar um processo de trabalho onde envolva a pesquisa, a busca de referências, as reflexões, intuição.

É o conjunto todo, o envolvimento e a criação de séries de trabalho, a prática constante que vai mostrar para o artista o caminho para formar sua OBRA. Então, a obra não é somente um quadro, um único trabalho, é o conjunto de toda a produção do artista durante sua vida.

A rotina de ateliê não necessariamente inicia-se no ateliê. São observações coletadas durante os instantes do dia, das horas, das emoções que provocam a criação. Nesse ambiente criativo, a intuição é mestra. Um detalhe que para o artista vira arte, pode significar nada para alguém que não é artista.

A rotina de ateliê é um processo!

Um hábito comum para o artista é a visita do próprio artista ao seu ateliê. Sim, uma visita, onde ele só contempla: o espaço, as obras e tudo o que ali conversa com seu trabalho. Sentar-se em uma poltrona por horas e observar. Pegar um livro, fazer pesquisa, buscar referências. Folhear revistas, olhar a paisagem da janela. Colher os insights! Esse é o processo.

A técnica é importante, mas o que vem antes, durante e depois é isso. É esse conjunto de momentos, de ações que criam o “ambiente” propício para a criação.

A contemplação é o momento em que o artista se desliga de toda poluição, daquilo que não contribui para ele estar no seu momento, no instante já, em que ele é o único habitante do seu espaço, do seu mundo de ligação entre o interno e o externo. Entre ele e a atmosfera da Arte.